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A Capital da Alegria




"Trabalho como um louco,

Mas ganho muito pouco,

Por isso, eu vivo sempre atrapalhado.

Fazendo faxina, comendo no China.

Está faltando um zero no meu ordenado."


Este música carnavalesca cantada por Francisco Alves, o Rei da Voz, na década de 40, retrata bem a vida do brasileiro, e que nada mudou. Tudo continua o mesmo, a não ser o carnaval.


Ainda que faltando um zero no ordenado, naquela época o Carnaval era mais autêntico. Verdeira festa popular, com efetiva participação do povo. Havia, até certo romantismo no ar.


Por quê a música cantada por Beth Carvalho: "depois que o visual virou quesito...", tudo mudou, "e o samba que nasceu menino pobre, hoje se veste de nobre." A preocupação do carnavalesco é a de não perder pontos, no desfile da avenida.


Lembro-me então, da minha adolescência e juventude. O corso da avenida um... Os carnavalescos, desfilando em veículos abertos, os carros alegóricos do Ginástico, Grêmio Recreativo e Cidade Nova. Os blocos e o povo em geral, sambando, com ou sem fantasia. Batalhas de confetes e serpentinas.


As escolas de Tamoio e Voz do Morro davam um show de samba no pé, não se preocupavam com luxuosas fantasias ou quesitos, a finalidade era extravasar seus sentimentos, jogar fora as frustrações e tristezas do ano que passou. Com a certeza de que, para cada quarta-feira de cinzas, sempre haverá quatro dias de Carnaval.


Era uma verdadeira higiene mental!


"Chiquita Bacana lá da Martinica. Se veste com uma casca de banana nanica."


Os foliões cantavam músicas compostas exclusivamente, para aquele ano e , é claro, as antigas, que se tornavam clássicas carnavalescas. Não se concebe um carnaval sem, o Pirolito, Mamãe eu Quero, As Pastorinhas, A Jardineira e muitas outras, que me escapam da memória.


Hoje, os compositores, com raríssimas exceções, não mais compõem músicas para carnaval, preocupam-se com os sambas-enredos das escolas de samba, nem sempre de qualidade, e, logo são esquecidos. As marchinhas vão sendo desprestigiadas, porque, segundo os críticos, uma escola de samba que se preze não pode desfilar em ritmo de marcha, perde pontos.


"Sinto uma dor no meu peito, só você poderia dar um jeito, Enlouqueci desde que te vi." Recordo-me dos carnavais de salão do Grupo Ginástico Rio-Clarense.


"É com esse que eu vou sambar até cair no chão..." No carnaval de 1950, no baile do Ginástico, iniciei o namoro, com essa que é minha esposa, Maria Rachel.


"Confete, pedacinho colorido de saudade..." Eufemismo talvez, mas sempre nos parece que o passado foi melhor que o presente. E que o tempo não perdoa. Os anos vão passando, os castelos vão desmoronando, somente ficando as doces recordações. A tendência do homem é de esquecer o que foi ruim e procurar lembrar somente aquilo que foi bom.


Porém, a bem da verdade, os carnavais rio-clarenses de rua do passado, são como a autêntica"goiabada cascão em caixa, é coisa fina, sinhá, que ninguém mais acha".


Louvem-se os esforços da Banda da Esquina do Veneno que está procurando resgatar o carnaval da zona central da cidade, ao estilo antigo.




João Baptista Pimentel Jr.

Advogado e Escritor

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