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J.Triste: Poeta e Homem do Povo

Acordei hoje decidido a remexer nos meus baús e na minha ancestralidade. Reflexo de estar nestes últimos dias sentindo uma baita saudades de meu avô paterno, João Baptista Pimentel ou simplesmente, J. Triste, pseudônimo que utilizava como assinatura em poesias, crônicas, artigos, peças teatrais, palavras cruzadas, charadas, enfim, em todas as centenas (talvez milhares) de obras literárias e intelectuais que produziu.



Nascido em Rio Claro. Ferroviário de profissão. J. Triste atuou como organizador e gerente de várias Cooperativas de Empregados da Cia. Paulista de Estradas de Ferro e após uma cirurgia, realizada quando tinha cerca de 40 anos, perdeu a voz. Foi daí em diante que passou a utilizar o referido pseudônimo.

“Na verdade, nunca soubemos por que papai usava o pseudônimo J. Triste, pois na verdade ele era muito alegre e brincalhão” – responde meu pai, João Baptista Pimentel Junior sempre que lhe questiono sobre esta questão. Portanto, acredito que a motivação da utilização de tal pseudônimo permanecerá para sempre um mistério.


Poeta, escritor, dramaturgo, cruzadista e charadista, J. Triste colaborou em dezenas (talvez centenas) de jornais brasileiros, dentre os quais, o centenário Diário do Rio Claro – matutino fundado em 1 de setembro de 1886, ainda em circulação, no qual posteriormente tive o prazer de exercer as funções de repórter, colunista, editorialista e editor chefe na década dos anos de 1980.


Apesar de sua frenética produção intelectual e literária, J. Triste publicou apenas dois livros: “No Meu Silêncio” e “Simplicidade”. Como cruzadista e charadista recebeu dezenas de premiações de vários jornais, dentre os quais, d’O Estado de São Paulo. Foi ainda o primeiro (e talvez único) Colunista Social Rural, publicando durante anos no mesmo Diário do Rio Claro, a Coluna do Zeca Brito (outro pseudônimo por ele adotado), na qual registrava os acontecimentos sociais relacionados às famílias que residiam nos vários distritos rurais rio-clarenses.


A memória sua produção jornalístico – literária pode, em parte, ser acessada consultando-se a coleção de jornais rio-clarenses preservadas no bem organizado Arquivo Público e Histórico de Rio Claro. Digo, em parte, pois como já dito,

colaborou em dezenas de outros jornais e publicações espalhadas pelo Brasil, em especial, em cidades do Estado de São Paulo.


Praça Poeta J. Triste em Rio Claro, SP. No detalhe imagem de João Baptista Pimentel (J. Triste).

Já sua importância no contexto social e cultural rio-clarense, foi reconhecida, por iniciativa do amigo e então vereador Sergio Guilherme, que conseguiu fazer aprovar pela Câmara Municipal de Rio Claro, projeto denominando como Praça Poeta J. Triste, um dos mais belos jardins de nossa cidade natal.


Lembro que na festa de emplacamento desta praça vários dos presentes espontaneamente declamaram dezenas de poesias de vovô. Poesias que estas pessoas sabiam de cor. Poesias curtas, construídas em sua linguagem de homem do povo. Poesias singelas mas invariavelmente metricamente corretas e bem rimadas.

E foi mesmo uma festa muito bonita, com muita música e muita alegria. E confesso que naquele dia também fiquei muito feliz. Não só por participar de uma homenagem que era oferecida a memória de meu avô. Mas, especialmente, por participar de uma homenagem dedicada a um poeta simples, humilde e pobre. A um homem-poeta que não deixou fortuna, mas que para além de seus versos, deixou como herança bendita, um exemplo e a certeza de que ser honesto vale a pena.


J. Triste teve cinco filhos e morreu aos 82 anos. Morreu “como um passarinho”. Sem nenhum sofrimento. Humildemente no seu silêncio. Talvez sonhando e poetando em sua cadeira de balanço. Num único e definitivo suspiro, depois do qual se foi para não sei onde, deixando apenas saudades….muitas saudades.


João Baptista Pimentel Neto

Em tempo: Reza a lenda que nasci num domingo de páscoa. 29 de março de 1959. Dia de lua cheia.

Poeta e bonachão, segundo relato de mamãe, Maria Rachel das Graças Pizzotti Pimentel, vovô teria chegado a publicar no Diário do Rio Claro que tinha nascido o PASCOALINO PIMENTEL. Graças ao bom senso e as “graças” de mamãe acabei sendo batizado como João Baptista Pimentel Neto – ou simplesmente NETINHO.


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